É muito feminino, sabe?” Interseccionalidade nas políticas públicas de economia solidária no Cesol Recôncavo
Dissertação Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigualdades e Desenvolvimento, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Karine Conceição DE OLIVEIRA, 2020
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Résumé :
Este estudo teve como objetivo analisar as influências do instrumento de política pública Centros Públicos de Economia Solidária (Cesol) na construção e/ou manutenção dos papéis desempenhados pelas mulheres negras nos empreendimentos econômicos solidários. Trata-se de um estudo de caso qualitativo realizado no Cesol do Recôncavo, gerido pela Organização Social Comissão Ecumênica do Direito da Terra – CEDITER e situado na UFRB, em Cruz das Almas. Por meio de rodas de conversa buscou-se escutar as vozes das participantes de quatro grupos produtivos com tipologias de produção distintas, de modo a perceber como a divisão sexual do trabalho se revela nos ambientes laborais dos empreendimentos, e, como o instrumento de políticas públicas Cesol poderia, ao interseccionar marcadores sociais de gênero, raça e classe, contribuir para o enfrentamento da naturalização da divisão sexual do trabalho. Além disso, foi realizada uma entrevista de modo remoto. Todas as narrativas foram analisadas por meio do método da análise de conteúdo, chegando-se a categorias de análise criadas a partir do agrupamento de respostas reincidentes. O aporte teórico da pesquisa se sustenta no quadrilátero conceitual: Divisão Sexual do Trabalho e gênero; Economia Solidária; Instrumentalização das Políticas Públicas; e interseccionalidade. Os resultados revelam que: as questões de gênero, raça e classe se apresentam de forma diluída na prestação dos serviços do Cesol; a reprodução das atividades laborais associadas ao feminino compõe o reportório narrativo dos agentes públicos e agências de fomento; os empreendimentos de Economia Solidária reproduzem, nas tipologias de produção, o desenho hierárquico estabelecido na sociedade, e, não havendo reflexão e problematização da divisão sexual do trabalho junto aos empreendimentos, a Economia Solidária reproduz o sistema de opressão imposto às mulheres.